Elisania Batistelli

Essa história é baseada em alguns capítulos da história de vida da Elisania de Fátima Aguirre Pulter Batistelli, 39 anos.
De acordo com ela:
“ Nasci no interior de Constantina - RS e até os quatorze anos ajudei meus pais nas tarefas da casa e na agricultura de subsistência, basicamente braçal. Um trabalho nobre e necessário, mas nada fácil para adultos quanto mais para uma criança! Tinha sonhos grandes que não condiziam com a realidade da época e assim, na primeira oportunidade que tive, saí de casa para estudar na capital, num colégio de religiosas.

 

Em meio as alegrias e dificuldades do caminho pude me formar no magistério e aos poucos
conquistar minha independência com o meu trabalho e a ajuda da minha família e de tantas pessoas especiais a quem dedico eterna gratidão. Me formei no curso superior de Pedagogia, o que me enche de orgulho!

 

Casei com um homem bondoso e de caráter; temos dois filhos maravilhosos; constituímos a nossa família. Em Função da profissão do meu esposo, moramos em cidades diferentes e a adaptação sempre foi meu maior desafio até então.

 

Só que em 2014 a vida me desafiou de fato quando fui diagnosticada com um câncer de mama. O que
fazer? Ficar chorando pelos cantos não resolveria minha situação, (embora tenha chorado compulsivamente nos três primeiros dias após a quadrantectomia). Que mãe queria que meus meninos lembrassem quando tivessem que enfrentar uma dificuldade na vida: aquela que se acovardou ou
aquela que usou de todos os recursos para enfrentar o tratamento (quimioterapia, radioterapia e seus efeitos? Obviamente, fiz de tudo para deixar na lembrança deles a segunda opção, embora o medo e a
desesperança muitas vezes me assombrassem diante da perda do cabelo, dos pelos, das unhas, do ganho de peso, da fratura de alguns ossos, dos vômitos e etc. Nesses momentos buscava coragem de ser eu mesma, sem me importar com quem estava, afinal estava re(criando) e re(afirmando) a minha identidade. “Se vivemos como respiramos, prendendo e soltando, não poderemos errar.”

 

Hoje, ao re (olhar) minha história me vem a imagem da loba corajosa, livre e forte que vive cada mulher, do livro da Clarissa Pinkola Estés “Mulheres Que Correm Com Os Lobos”, leitura que indico para as pessoas interessadas em se conhecer, trabalhar sua identidade, seus valores, curar muitas das feridas emocionais que às vezes herdamos dos nossos antepassados ou da própria educação patriarcal. Descobri que dentro de mim (e de cada mulher) habita uma força poderosa, um turbilhão de bons instintos, de criatividade, de paixão e conhecimentos atemporais que, às vezes, a própria sociedade nos faz esquecer na tentativa de “nos domesticar”. Que apesar de toda a nossa aparente sofisticação, continuamos sendo natureza, criaturas selvagens que, de alguma maneira, anseiam por recuperar aquela liberdade ancestral para se sentirem vivas, para encontrarem sua posição no mundo.

 

Agora, agradeço ao Criador a nova chance de rever meu projeto e propósito de vida, de descobrir novas habilidades, de desenvolver novos talentos, de olhar nos olhos das pessoas com mais amor e sensibilidade, de ser fiel e sincera com meus sentimentos, de cuidar melhor do meu corpo, de ouvir a minha alma; afinal, estou saudável, me sinto livre e sou uma MULHER DE PODER!".